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"œO repasse para a cultura no nosso país é uma piada", lamenta historiadora

Estudantes e professores de Arqueologia da Ufpi protestaram contra cortes de verbas da ciência, além do baixo investimento em cultura e educação.

05/09/2018 07:29

Após o incêndio ocorrido no Museu Nacional no último domingo (2), estudantes e professores do curso de Arqueologia da Universidade Federal do Piauí (Ufpi) decidiram realizar um ato de solidariedade ontem (4). Na manifestação, o sentimento era de luto pela perda de um acervo riquíssimo de artefatos recolhidos nos últimos 200 anos. Eles também protestaram contra cortes de verbas da ciência, além do baixo investimento em cultura e educação.

“Esse é um ato de solidariedade pelo o que aconteceu no Museu, um ato de luto, mas é também um ato de manifestação pela nossa cultura. Enquanto a gente não acordar para o que está acontecendo, vão queimar mais museus, vão queimar mais casarões [se referindo ao incêndio em casarões no Centro Histórico de Salvador, ocorrido na segunda-feira, 3]. A gente tem a Serra da Capivara ameaçada, o Museu do Piauí não tem o investimento necessário”, lista a professora e historiadora Jóina Freitas Borges, uma das organizadoras do ato.

O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a mais antiga instituição científica do Brasil. Em nota, a UFRJ classificou o incêndio como “a maior tragédia museológica do país” e “uma perda incalculável para o nosso patrimônio científico, histórico e cultural”. O fato repercutiu internacionalmente.

Em Teresina, manifestantes abraçaram o Museu de Arqueologia e Paleontologia da Ufpi. Foto: Elias Fontinelles/ODIA

Já na segunda-feira (3), dia seguinte ao incêndio, o Ministério da Cultura anunciou o início do projeto de reconstrução do Museu Nacional. Questionada a esse respeito pela reportagem de ODIA, a professora Jóina defende que isso mostra que o problema não era escassez de recursos.

“Quando a gente pensa nos auxílios-paletó, nos auxílios para os juízes federais, na verba que é gasta com o juiz federal e o valor destinado ao Museu ser o mesmo, você acha tudo isso uma grande piada. Uma brincadeira com a gente. A gente tem dinheiro sim, a questão é das escolhas que são feitas para o repasse desses recursos. A questão maior é nós mesmos, não cobrarmos [as autoridades]”, pontua a professora.

Jóina afirma ainda que “o repasse para a cultura no nosso país é uma piada” e lamenta que os investimentos na área ainda sejam considerados supérfluos por uma grande parcela da população.

“[Isso] em um país que tem problema de educação, saúde e segurança. Mas eu digo que um país que não tem consciência da sua própria cultura, um país que não tem a sua autoestima levantada pela própria cultura, uma sociedade que não valoriza a própria identidade é uma sociedade que não vai cobrar, nem se tornar cidadã”, destaca.

Segundo o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, a tragédia poderia ter sido evitada. “Isso acontece justo agora, que medidas estavam sendo tomadas. O BNDES assinou em junho um contrato de patrocínio no valor de R$ 21,7 milhões. O Instituto Brasileiro de Museus realizou diversas ações. Infelizmente, não foi o suficiente”, disse ele, segundo publicado no jornal Folha de S. Paulo.

Edição: Virgiane Passos
Por: Ananda Oliveira
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